quinta-feira, 26 de novembro de 2009

JOGO PATOLÓGICO

O jogo é um passatempo, uma diversão e hoje tem a ver com excitação. A brincadeira é um estado interior. É uma forma de sair da realidade, fantasiar, extravasar.
Ao contrário da criança, o adulto se relaciona de maneira distinta com o jogo. A criança que monta e desmonta castelos, concentra sua atenção no ato de desmoronar e recomeçar. Cada construção é renovada, é vista de forma diferente. Na brincadeira, ela está interagindo com o mundo externo e modificando-o.
O jogo se manifesta através da poesia, da linguagem, das relações amorosas e das relações sociais e leva a pessoa a um mundo fora da realidade, de maneira espontânea, onde o jogador é transportado para a ficção. É imaterial, porém inteiramente concreto para o jogador. Mundo esse onde é permitido novas regras, gozar da liberdade, entrar no faz-de-conta, busca do prazer. Funciona como uma fuga da realidade dura e crua, penosa e cruel. É um escape seguro que possibilita ao indivíduo retornar à realidade quando quiser e aliviado das tensões.
O jogo patológico pode ser definido pela persistência do comportamento de apostar em jogos de azar, apesar de perdas sofridas pelo jogador em diversos âmbitos da sua vida. Aos longo de, pelo menos cinco anos, o jogador irá passar por três fases, as quais:

FASE DA VITÓRIA - onde a sorte levará o indivíduo a jogar mais. O jogador acredita que é invencível, está com sorte, que sabe jogar e começa a querer ganhar mais e mais, pois tem uma crença irreal de que só ganhará. O jogador que não sofre dessa patologia pára por aqui.

FASE DA PERDA - caracterizada pelo comportamento insistente do jogador em continuar apostando, embora tenha sofrido grandes perdas. Chega ao ponto de comprometer sua renda e mergulhar em dívidas.

FASE DO DESESPERO - é a fase em que o indivíduo se percebe sozinho, cheio de dívidas, sem reputação e desejo profundo em recuperar suas vitórias. Encontra-se esgotado físico e psicologicamente, pois se percebe derrotado e sem enxergar apoio e saída para a solução do problema. É uma fase perigosa, pois é iminente a ideação suicida neste momento.
O pensamento do jogador patológico é pouco construtivo, isto é, seu pensamento se limita a apostar e ganhar. Em geral, são pessoas que apresentam pouca capacidade de controle sobre suas vidas e pouca tolerância ao estresse, às perdas e ao enfrentamento diante de dificuldades.
Como mecanismo de defesa, muitos jogadores se afastam, mas a abstinência não é, necessariamente, o foco do tratamento, mas sim o autocontrole. Retomando o controle sobre sua vida, torna-se mais fácil evitar o jogo e, consequentemente, o vício.
Da mesma maneira que existem os grupos de apoio aos alcoólicos e narcóticos anônimos, também existem para o jogador patológico, como o Ambulatório do Jogo Patológico no PROAD/UNIFESP, que foi criado em 1994.


Bibliografia:
RETONDAR, Jeferson José Moebus. A Produção Imaginária de Jogadores Compulsivos: A Poética do Espaço do Jogo. Ed. Vetor. 2004. São Paulo.

OLIVEIRA, Maria Paula Magalhães Tavares de. Dependências: O Homem à Procura de Si Mesmo: Consideração a Respeito de Tratamento e Prevenção de Farmacodependência e Jogo Patológico. Ed. Ícone. 2005. São Paulo.