
Para muitas pessoas, comer muito é um dos maiores prazeres da vida. O alimento está associado, em nossa cultura, ao afeto. Desde pequenos adquirimos o hábito de agradar ou receber alguém lhe oferecendo algo gostoso para comer. Aprendemos que as avós sempre fazem guloseimas, que nos são oferecidas com carinho. O hábito de comer em excesso tem acarretado complicações. No prazer de comer vem acompanhada a obesidade e esta, por sua vez, traz sérios riscos à saúde, como problemas cardíacos (insuficiência cardíaca, enfarto, angina), insuficiência respiratória, problemas de articulação e circulação, apnéia, entre outras complicações. Esses danos à saúde aumentam a taxa de mortalidade, diminui a expectativa de vida e afeta diretamente a qualidade de vida.
A obesidade é uma doença e, como tal, deve ser tratada. Além de implicações na saúde, a obesidade acarreta problemas em outros âmbitos na vida do indivíduo. O social: o preconceito, a dificuldade de locomoção e transporte, a dificuldade em executar tarefas, o cansaço excessivo, os assentos em lugares públicos, as passagens estreitas, etc. Econômico: considerando que a pessoa obesa necessita de tratamentos especiais que, muitas vezes, não são cobertos pelo convênio médico, e a questão do vestuário, normalmente limitado. Porém, ainda há outro aspecto, o psicológico, sendo esse um dos mais significativos, pois atinge as relações interpessoais, mexe com sentimentos de culpa e de inferioridade, que podem ser gerados pelas situações vividas pela pessoa obesa, o que leva ao isolamento.
Pessoas em tratamento contra obesidade podem apresentar depressão, ansiedade, transtornos alimentares e distúrbios de personalidade. Quando essas complicações passam a fazer parte da vida do indivíduo, a psicoterapia (em conjunto com a psiquiatria, quando se faz necessária) pode ajudá-lo a encontrar respostas que preencham determinadas lacunas, fazendo com que olhe para si mesmo, busque conhecer-se e chegar à percepção de como está sua relação consigo mesmo, com os outros, com o mundo que o cerca e, acima de tudo, que papel a alimentação excessiva tem em sua vida.
Considerando que o alimento está ligado ao afeto, normalmente ele está suprindo uma carência aparentemente desconhecida do indivíduo que come excessivamente. Os fatores psicossociais e emocionais podem fortalecer ou enfraquecer o sistema imunológico, assim como o metabolismo do organismo. Quando enfraquece, o indivíduo sofre conseqüências, como a obesidade. A gordura pode ser vista como uma proteção, um anteparo para o indivíduo se esconder do meio e de si mesmo. É como ele esconde seus sentimentos e se sente defendido.
O transtorno alimentar nada mais é do que a expressão dos conflitos inconscientes, que são situações emocionais mal-resolvidas ou sublimadas (luto ou perda não-elaborada, carência afetiva ou outro sofrimento de fundo emocional). Recorrer à comida excessivamente é a tentativa de buscar preencher lacunas afetivas e, assim, diminuir angústias e frustrações, obtendo a sensação de prazer e acalento. Isso, invariavelmente, leva a uma sensação de equilíbrio psíquico.
Contudo, mesmo quando é realizado um tratamento contra a obesidade, como no caso da cirurgia de redução do estômago, as implicações psicológicas permanecem no indivíduo. Suas angústias, ansiedades, agressividades estão presentes ainda nas suas relações e na sua inadequada forma de expressão. É nesse ponto que o acompanhamento psicológico se torna imprescindível para que o indivíduo consiga nomear seus sentimentos e emoções. Importante para que venham à consciência esses conteúdos latentes, que são os causadores de sua conduta inadequada. O resultado é um maior sentido existencial da pessoa, caso contrário, essa inadequada relação com o alimento continuará lhe trazendo problemas de saúde.
Faz-se necessário, após a consciência do seu quadro e ações para modificá-lo, a continuidade do trabalho psicoterapêutico, agora voltado para a aceitação por parte do indivíduo de seu novo esquema corporal, proporcionando a ele condições de internalizar sua nova imagem. Quando o indivíduo se torna conhecedor de si e de suas emoções e sentimentos, sua postura diante dos problemas se torna favorável para o restabelecimento da saúde e equilíbrio psíquico.