sexta-feira, 30 de maio de 2008

OBESIDADE E AFETO




Para muitas pessoas, comer muito é um dos maiores prazeres da vida. O alimento está associado, em nossa cultura, ao afeto. Desde pequenos adquirimos o hábito de agradar ou receber alguém lhe oferecendo algo gostoso para comer. Aprendemos que as avós sempre fazem guloseimas, que nos são oferecidas com carinho. O hábito de comer em excesso tem acarretado complicações. No prazer de comer vem acompanhada a obesidade e esta, por sua vez, traz sérios riscos à saúde, como problemas cardíacos (insuficiência cardíaca, enfarto, angina), insuficiência respiratória, problemas de articulação e circulação, apnéia, entre outras complicações. Esses danos à saúde aumentam a taxa de mortalidade, diminui a expectativa de vida e afeta diretamente a qualidade de vida.
A obesidade é uma doença e, como tal, deve ser tratada. Além de implicações na saúde, a obesidade acarreta problemas em outros âmbitos na vida do indivíduo. O social: o preconceito, a dificuldade de locomoção e transporte, a dificuldade em executar tarefas, o cansaço excessivo, os assentos em lugares públicos, as passagens estreitas, etc. Econômico: considerando que a pessoa obesa necessita de tratamentos especiais que, muitas vezes, não são cobertos pelo convênio médico, e a questão do vestuário, normalmente limitado. Porém, ainda há outro aspecto, o psicológico, sendo esse um dos mais significativos, pois atinge as relações interpessoais, mexe com sentimentos de culpa e de inferioridade, que podem ser gerados pelas situações vividas pela pessoa obesa, o que leva ao isolamento.
Pessoas em tratamento contra obesidade podem apresentar depressão, ansiedade, transtornos alimentares e distúrbios de personalidade. Quando essas complicações passam a fazer parte da vida do indivíduo, a psicoterapia (em conjunto com a psiquiatria, quando se faz necessária) pode ajudá-lo a encontrar respostas que preencham determinadas lacunas, fazendo com que olhe para si mesmo, busque conhecer-se e chegar à percepção de como está sua relação consigo mesmo, com os outros, com o mundo que o cerca e, acima de tudo, que papel a alimentação excessiva tem em sua vida.
Considerando que o alimento está ligado ao afeto, normalmente ele está suprindo uma carência aparentemente desconhecida do indivíduo que come excessivamente. Os fatores psicossociais e emocionais podem fortalecer ou enfraquecer o sistema imunológico, assim como o metabolismo do organismo. Quando enfraquece, o indivíduo sofre conseqüências, como a obesidade. A gordura pode ser vista como uma proteção, um anteparo para o indivíduo se esconder do meio e de si mesmo. É como ele esconde seus sentimentos e se sente defendido.
O transtorno alimentar nada mais é do que a expressão dos conflitos inconscientes, que são situações emocionais mal-resolvidas ou sublimadas (luto ou perda não-elaborada, carência afetiva ou outro sofrimento de fundo emocional). Recorrer à comida excessivamente é a tentativa de buscar preencher lacunas afetivas e, assim, diminuir angústias e frustrações, obtendo a sensação de prazer e acalento. Isso, invariavelmente, leva a uma sensação de equilíbrio psíquico.
Contudo, mesmo quando é realizado um tratamento contra a obesidade, como no caso da cirurgia de redução do estômago, as implicações psicológicas permanecem no indivíduo. Suas angústias, ansiedades, agressividades estão presentes ainda nas suas relações e na sua inadequada forma de expressão. É nesse ponto que o acompanhamento psicológico se torna imprescindível para que o indivíduo consiga nomear seus sentimentos e emoções. Importante para que venham à consciência esses conteúdos latentes, que são os causadores de sua conduta inadequada. O resultado é um maior sentido existencial da pessoa, caso contrário, essa inadequada relação com o alimento continuará lhe trazendo problemas de saúde.
Faz-se necessário, após a consciência do seu quadro e ações para modificá-lo, a continuidade do trabalho psicoterapêutico, agora voltado para a aceitação por parte do indivíduo de seu novo esquema corporal, proporcionando a ele condições de internalizar sua nova imagem. Quando o indivíduo se torna conhecedor de si e de suas emoções e sentimentos, sua postura diante dos problemas se torna favorável para o restabelecimento da saúde e equilíbrio psíquico.

2 comentários:

Varlice disse...

Querida sobrinha
Não sei por que esse seu texto me falou ao coração...
Parabéns pelo blog. Visitarei você muitas vezes.
Deus lhe abençoe.
Beijoca
Tia Varlice

Cristiane disse...

Obrigadíssimo, tia! Sua opinião é muito importante para mim. Sempre que quiser, entre e fique à vontade!!
Bjok